MANOEL MESSIAS, PRESIDENTE DA ESCOLA DE SAMBA SAMBÃO, É HOMENAGEADO DENTRO DA PROGRAMAÇÃO DO ANIVERSÁRIO DO MÚSICA PARA TODOS!
O Música Para Todos completa 23 anos e realizará a XXII Semana das Artes Para Todos, um evento que acontecerá no período de 22 a 28 de maio, com uma extensa programação que inclui diversas atrações artísticas. Entre elas o show “ CLÁUDIA SIMONE HOMENAGEIA A VELHA GUARDA DO SAMBA DO PIAUÍ”, que vai acontecer dia 25 de maio no Theatro 4 de Setembro. Toda programação será híbrida (presencial e on-line) e GRATUITA! Durante o show, que contará com a abertura da Orquestra Jovem Música Para Todos, vários sambistas estarão sendo homenageados, e entre eles, o senhor Manoel Messias, Presidente da GRES Sambão.
Você sabe o que quer dizer GRES SAMBÃO? Significa Grêmio Recreativo Escola de Samba Sambão, que naturalmente é uma escola de samba que nasceu de um movimento liderado por vários jovens da conhecida Baixa da Égua, localizada no centro de Teresina, Piauí, Brasil, e que tem como Presidente Manoel Messias do Espírito Santo.
Se ainda existe? Sim, existe no espírito da Comunidade e na história da Escola que deixou marcas indeléveis na cultura do Piauí. É uma das maiores agremiações do Carnaval Teresinense detentora de 4 títulos, sendo bi-campeã seguida por duas vezes 1976, 1977 e 1987, 1988.
O saudosismo do Sambão faz questão de reverenciar sambistas que passaram pela Escola como Claudete Trindade, Rainha do Carnaval, Miss Piauí e Miss Simpatia. Mas o que deixa a Diretoria da escola orgulhosa é o fato de ser a única que desfilou ininterruptamente todos os anos, enquanto existiu o Carnaval de Teresina.
Também é a única em muitas coisas: nunca deixou de desfilar; possui sede própria e comunidade; desenvolveu ações sócio-culturais e educativas, como o projeto de prevenção a DST/AIDS intitulado “O taxista na rota da prevenção”; ofereceu aulas de percussão para menores em situação de risco; além de palestras e eventos na área da saúde pública.
O Sambão é um sonho latente que a qualquer hora pode despertar!
História
O nome “Sambão” nasceu logo após o desfile do bloco de sujos “Turma Alegre e sem dinheiro” em 1972. Formado por jovens da região conhecida como baixa da égua, mais precisamente na Quinta Velha, embaixo de um umbuzeiro na Rua Benjamin Constant. A turma que se reunia à sombra do saudoso Umbuzeiro resolveu desfilar como bloco de sujos, causando “frisson” na Avenida Frei Serafim devido ao número de componentes e ao ritmo frenético de sua bateria. Segundo Marcelino Filho, um dos fundadores da escola, por onde o bloco passava se ouvia, aplausos e palavras como “Eita que Sambão!”.
Década de 70 e primeiros desfiles
Após o carnaval de 1972 o pessoal do bloco resolveu dar um salto, e inscreve-se para disputar o título do carnaval como escola de samba junto com as escolas tradicionais. E assim no dia 17 de janeiro de 1973 nasceu oficialmente o Grêmio Recreativo Escola de Samba Sambão. O empenho de toda a comunidade resultou em um festejado 3° terceiro lugar, com direito a três dias de desfile.
Em 1974 o Sambão cresceu em número de componentes e atraiu teresinenses de todas as classes sociais. Neste ano a escola resolveu oficializar as cores rosa e branco como sendo as de sua bandeira e apresentou o tema “Miscigenação Brasileira”, ficando com um honroso segundo lugar.
Em 1975 conquista mais um vice campeonato.
O ano de 1976 foi o da consagração para o GRES Sambão. Naquele ano surgiria o primeiro campeonato com “Saudações aos Orixás”. A escola desfilou muito luxo na avenida e assim sangrando-se pela primeira vez campeã. Para grande euforia da comunidade da Baixa da Égua…
Em 1977 novamente repete o grande show na avenida Frei Serafim, com o enredo “Os Signos Zodiacais”, o Sambão sagra-se bicampeão do carnaval de rua de Teresina. E cada vez mais conquistando o carinho da população de Teresina.
Já em 1978 com o enredo “Mudança da Capital”, a rosa e branca homenageou a Imperatriz Teresa Cristina que inspirou o nome da capital do Piauí, que veio a ser trocada de Oeiras, a escola ressaltou a importância da história de Teresina, mas ficou apenas com o 3° lugar na classificação geral.
Em 1979 o entusiasmo, o luxo e a beleza do Sambão não conseguiram emplacar no carnaval na avenida uma boa classificação, pelo menos na avaliação dos jurados. A escola ficou com um amargo 5° lugar.
Década de 80 tetracampeonato e a desativação do carnaval de Teresina!
Em 1980 o Sambão cantou “O Baralho”, mas o enredo não atingiu os objetivos da escola que ficou apenas com um 4° lugar.
No ano de 1981, novamente o Sambão retoma o vice-campeonato, com o enredo “Exaltação Ecológica”, um desfile em defesa da natureza e dos animais, agradando boa parte dos jurados e do publico presente na avenida Frei Serafim.
Em 1982 a escola deu o recado na avenida, mas ficou apenas com o 4° lugar.
Em 1983 na comemoração dos “Dez anos de Sambão” o enredo festivo não foi suficiente para empolgar os jurados e a escola ficou novamente com o 4° lugar.
No ano de 1984 o Velho Monge foi cantando pelo Sambão no enredo “Rio Parnaíba”, que exaltava as belezas deste rio piauiense, mas que também falava dos problemas como a sua poluição ao longo dos anos, mesmo assim levantando a bandeira da preservação a escola ficou novamente com um 4° lugar, veja o trecho do samba enredo de autoria do seu Manoel Messias, considerado por muitos como uma verdadeira poesia…
“De lá pra cá o rio cresce/ O rio é permanente em constante formação/ No inverno ele enche, no verão quase seca/ Surgindo as coroas que nos alegram e entristece/ Velho Monge foi assim que o poeta te chamou e te chamou/ O saudoso amarantino da Costa e Silva/ Que em suas águas se inspirou/ Banha vinte municípios embeleza a capital/ A barragem de boa esperança/ É um fruto do seu leito natural/ Seu doutor não deixe o rio morrer/ Velho Monge esta morrendo/ Faça o rio reviver…”
Em 1985 o 4° lugar já estava se tornando uma história chata, mas foi esta a colocação da escola novamente, ou seja de 1982 a 1985 o Sambão só ficou na quarta colocação. Neste ano a escola começaria a traçar a sua rota em direção ao tetra campeonato que começaria em breve.
No ano de 1986 começa a grande virada da escola com o enredo “Índio Thucarramãe” o Sambão conquista um surpreendente vice-campeonato. Mas ficaria pro ano seguinte a realização do grande objetivo, ser tri campeão do carnaval.
O sonho do tri foi realizado em 1987, a festa se completou com o enredo “Na Boca do Povo, Os Bilinguinguins do Magro de Aço”, que homenageou o jornalista Carlos Said. A homenagem foi tão importante para a escola quanto para o homenageado, que tinha contraído uma doença degenerativa na voz, e se encontrava completamente sem fala na ocasião. Conta-se que na hora do desfile, de tanta emoção, o velho jornalista voltou a falar, emocionando a todos. Por fim, o sambão conquistou o 1° lugar e o campeonato sagrando-se tricampeão do carnaval de rua de Teresina.
O samba enredo foi composto por Manoel Messias, Alexandre Naca, Magno Aurelio e Magnaldo Cardoso, no samba, a escola utilizou um termo que marca os comentários de Carlos Said até hoje: “Bilinguinguins”. Said conta que o termo é uma gíria esportiva fantástica, que marca o futebol no início do século, época na qual o esporte era recheado pela língua inglesa, vejamos o trecho do samba abaixo…
“Como era bom aos domingos/ Bandeira puro cetim/ Nos comentários/ Tinha sim bilinguinguins …”
No ano de 1988 mais uma conquista, o tão sonhado tetra, uma homenagem ao centenário da abolição da escravatura com enredo “Mãe África” rendeu mais uma vez o 1° lugar para o Sambão, sagrando-se tetracampeão do carnaval de rua de Teresina.
Em 1989 o enredo “Brasil, país das Maravilhas” não desfilou porque o desfile das escolas de samba ficaria sem acontecer até o ano de 1998.
Final da década de 1990 e começo dos anos 2000, a volta do carnaval, anos difíceis, e o quase rebaixamento
Em 1998 marcou a volta dos desfiles das escolas de samba de Teresina após sete anos de desativação, na volta do carnaval o desfile seria o último a ser realizado na avenida Frei Serafim. O Sambão assim como as outras escolas desfilou sem competir, com o enredo “As Sete Maravilhas do Piauí”.
O ano de 1999 foi o primeiro desfile das escolas de samba de Teresina na avenida Marechal Castelo Branco, a nova passarela do samba da cidade. O Sambão ficou em 5° lugar, mas não perdeu o entusiasmo nem a garra. A comunidade aplaudiu o desfile da rosa e branco.
Em 2000 no monumental desfile da virada do milênio, o Sambão levou para a avenida “A lenda da Cana de Açúcar”, com um desfile considerado tecnicamente fraco perdendo vários pontos nos quesitos alegorias e adereços, conjunto, evolução e harmonia, a rosa e branco conseguiu apenas o 5° lugar na classificação geral ficando a frente apenas da ultima colocada a Mocidade Alegre do Parque Piaui e atrás de escolas menos expressivas como a Unidos do Cabral que até então era recém criada.
Em 2001 o enredo “O novo milênio na visão criativa” ganhou destaque porque conseguiu levantar temas palpitantes como o perigo da AIDS e a importância da camisinha nas relações sexuais, a questão dos ET’s e disco voadores e a forte influência da informática na sociedade moderna. Mais uma vez com um desfile muito abaixo das expectativas, e com buracos nítidos nas alas, a escola só conseguiu novamente um amargo 5° lugar.
Em 2002 no aniversário dos 150 anos de Teresina, tudo era festa e o Sambão levou para a avenida o enredo “Parabéns a Teresina pelo seu sesquicentenário”, referenciando comidas típicas, folclore, lendas e o crescimento da nossa querida cidade verde. Neste ano a Unidos da Saudade resolveu voltar como escola de samba, e portanto o carnaval ficaria com 7 escolas, Ziriguidum, Brasa Samba, Skindô, Sambão, Unidos do Cabral, Mocidade Alegre do Parque Piaui e Unidos da Saudade, então foi decidido em uma reunião entre a LEST e a COC que haveria 2 grupos, um grupo sendo o principal com quatro escolas e outro sendo de acesso com três escolas, e com o resultado deste carnaval de 2002 as três ultimas colocadas formariam o segundo grupo para o ano de 2003.O Sambão mais uma vez com vários problemas fez um desfile de muita garra e determinação que garantiu o 4° lugar ficando a frente da Unidos do Cabral em quinto, e a ssim conquistou a permanência da escola na elite do carnaval.
O carnaval de 2003 para o sambão foi sem dúvida de tirar o folego, a escola comemorava seus 30 anos de existência, neste ano ficaria assim os grupos, o principal com 4 escolas consideradas grandes,… Ziriguidum, Skindô, Brasa Samba e Sambão, as três primeiras vinham de campeonatos conquistados recentemente, e o segundo grupo ficou com Unidos do Cabral, Unidos da Saudade e Mocidade Alegre do Parque Piaui, as vésperas do carnaval daquele ano, em janeiro a Unidos do Cabral declarou que não iria desfilar mais no carnaval de rua de Teresina contestando a decisão de no ano anterior ter caído e assim apenas 2 escolas disputaram o segundo grupo.
Sem dúvidas o maior medo da comunidade rosa e branco era disputar mais uma vez pra não cair, e se ficasse de novo em quarto lugar teria que disputar o segundo grupo uma coisa inédita em toda a sua historia, pois o Sambão sempre disputou os carnavais desde a sua fundação no primeiro grupo, jamais tinha caído e sempre se orgulhava disso. O Sambão desfilou com o enredo “De cidade em cidade histórica do quase deu certo ou vai ou racha Piaui na última fronteira agrícola”, a escola contou a historia dos principais ciclos econômicos do estado, até o cerrado no sul do Piauí como a ultima fronteira agrícola do Brasil, um celeiro de esperança e fé na promessa de desenvolvimento econômico do Piauí.
A comunidade da baixa da égua superou todos os problemas dos anos anteriores e fez um desfile muito bonito, acima da expectativa, e se preparou para apuração confiante de que tinha feito um bom desfile, mas na leitura dos dois primeiros quesitos alegoria e fantasias a escola estava em quarto lugar, justamente esta posição que levaria a escola para o segundo grupo, mas a partir do quesito comissão de frente as coisas começariam a mudar, um fato curioso neste carnaval de 2003 é que a Brasa Samba quando se preparava para fazer o seu desfile da terça feira, (na época eram dois dias de desfile, domingo e terça e os dois dias contavam as notas), ocorreu uma confusão interna envolvendo o casal de mestre sala e porta bandeira, com isso a escola desfilou na avenida Marechal Castelo Branco sem o seu casal, e assim acabou recebendo duas notas 5,0 a mais baixa nota que podia ser dada na apuração pelos jurados. Com a perda desses pontos preciosos a Brasa Samba acabou sendo superada pelo o Sambão na apuração, e assim ficando com o 4° lugar com 114,50 pontos sendo rebaixada para o segundo grupo, e o Sambão ficou com o 3° lugar com 135,50 pontos, atras da Skindo 154,50 pontos e a campeã Ziriguidum com 157 pontos. O titulo de campeã do segundo grupo ficou com a Unidos da Saudade com 125 pontos contra a Mocidade Alegre do Parque Piaui com 120,50 pontos.
Em 2004 o Sambão entrou na avenida com o enredo “Brasil, país de todos os povos” que contou a historia da miscigenação brasileira, com um desfile abaixo do esperado a escola ficou em 4° lugar, mas neste ano a Brasa Samba entrou com um recurso antes dos desfiles para acabar com o segundo grupo, em 2004 estreou uma escola nova, que desfilaria apenas neste ano, a GRES Nossa Cara, com as cores preto e branco, ela iria disputar o segundo grupo, mas por insatisfação de alguns componentes do GRES Brasa Samba que não concordavam em disputar com as escolas menores, a mesma se considerou uma escola fundadora do carnaval e não poderia passar por tal vexame, a COC e a LEST extinguiram o segundo grupo ainda antes do desfile de 2004, e assim as escolas desfilaram novamente em apenas um único grupo principal com sete escolas de samba.
Superação e a volta por cima
A partir do ano de 2005 o Sambão resolve dar um salto nos modelos de gestão de seus desfiles, conseguindo muito recurso próprio através de festas, bingos e doações de patrocínios. A escola resolveu homenagear o Mercado Central São José, mais conhecido como “O mercado central de Teresina”, com grandes carros alegóricos diferentemente de outros anos, mais alas,e com agora a bateria sob o comando de mestre Naka, conseguiu assim atingir o 3° lugar, bastante comemorado pela comunidade.
Em 2006 a passarela do samba do carnaval de Teresina mais uma vez foi modificada, e os desfiles seriam realizados na avenida Cajuína, localizada na zona leste da cidade. Foi um carnaval marcado por problemas no primeiro dia de desfile em relação ao mal tempo, no domingo nenhuma escola de samba desfilou, com a ordem dos desfiles definida o Sambão era a primeira escola a entrar na avenida abrindo os desfiles, e assim logo quando começou a passar o som eis que uma grande chuva veio a cair trazendo vários transtornos em relação as estrutura elétricas do carro de som e da avenida, e também aos carros alegóricos das escolas… assim foi cancelado os desfiles do domingo, e as escolas desfilariam apenas na terça feira de carnaval. O Sambão abriu os desfiles com o enredo “Na corte do momo a mágica metamorfose do carnaval” conquistando apenas o 4° lugar.
A cada ano que passava a escola continuava crescendo, em 2007 o enredo foi uma homenagem a cidade piauiense de Esperantina e sua cachoeira do urubu, com o titulo “Da saga do boi à rota do sol e das águas, Esperantina, terra da boa esperança”. Contando com o apoio da prefeitura municipal de Esperantina através do prefeito Felipe Santolia. Mais uma vez nas vésperas do carnaval a rosa e branca foi prejudicada, desta vez um suposto furto de um gerador que forneceria energia pra iluminação do carro abre alas o carro principal que contava a historia da cidade de Esperantina. Assim a escola teve que desfilar com o carro sem iluminação fazendo com que perdesse vários pontos no quesito alegoria e adereços, além de algumas falhas em outros quesitos, terminando desta forma o carnaval mais uma vez no 4° lugar. Um fato inusitado neste desfile foi a presença do prefeito de Esperantina da época Felipe Santolia, que desfilou montado sobre a égua no desfile da rosa e branco.
Em 2008 o sambão levou para avenida Marechal Castelo Branco um enredo afro “Saga Negra, da Africa a Esperança Garcia”, a escola da Baixa da Égua neste ano homenageou à Esperança Garcia, a negra que ganhou notoriedade por sua coragem: entregou uma carta em Oeiras ao governador da província denunciando maus tratos aos escravos. A ex-deputada Francisca Trindade e figuras como Pixinguinha, Cartola, Pelé, Clementina de Jesus e Zumbi dos Palmares foram homenageados, como símbolos do orgulho negro além disso o Sambão surpreendeu o público entregando 300 rosas nas arquibancadas. A escola contou com o apoio de vários grupos afro culturais de Teresina, e assim entrou na avenida de um jeito que jamais uma escola de samba teresinense havia desfilado. Com cerca de 1500 integrantes, grandes carros alegóricos e uma bateria de 120 ritmistas, a rosa e branco fez um maravilhoso desfile, com direito a aplausos da arquibancada do inicio ao fim do desfile e alguns gritos de campeã, sendo considerada a favorita pra conquistar o titulo do carnaval de Teresina 2008.
Mas o que era festa acabou se tornando pesadelo para a rosa e branco, ao final da apuração realizada na quarta feira de cinzas, o Sambão chegou a ser declarada campeã do carnaval, mas alguns minutos depois, foi informado que havia um erro na contagem das notas e seria preciso reconta-las, após a recontagem dos votos a Skindô e a Brasa Samba empataram, e assim foram declaradas campeãs, fazendo o Sambão ficar com um melancólico vice-campeonato.
Símbolos
As cores da escola são o rosa e o branco, o símbolo da escola foi herdado de sua comunidade, a baixa da égua, seu símbolo maior é a égua que passou a ser utilizada na década de 1980 e de lá pra cá esteve presente em todos os desfiles, até que deixaram de acontecer.
A saudade dos desfiles das Escolas de Samba salta aos olhos do presidente do Grêmio Recreativo Escola de Samba Sambão, Manoel Messias, que não consegue esconder a tristeza delas terem ficado fora da programação oficial do Carnaval de Teresina.
Messias lembra ainda que o carnaval era um período em que as pessoas acabam por receber uma renda extra, pois surgem mais empregos e serviços.
“O dinheiro que a gente recebia de apoio da Prefeitura acabava voltando para ela por meio dos impostos. Da costureira aos pintores, são centenas de pessoas que tinham essa renda extra, assim como as pessoas que ficam vendendo bebidas e comidas durante o percurso do desfile”, reforçou o sambista.
“Nós somos a única Escola de Samba que nunca deixou de desfilar. Quando me perguntam se esse ano vai ter desfile em Teresina, chega dói dizer que não”.
Quanto aos motivos alegados para não haver mais desfiles das escolas de samba em Teresina, Manoel Messias diz:
“As Escolas infratoras foram punidas porque não podem pegar o dinheiro público e usar indevidamente, mas ocorreu que todas as escolas foram punidas e ficaram fora do carnaval, até as que fizeram tudo certinho; a punição também foi pra própria população de Teresina que ficou sem prestigiar os desfiles”, lamenta o sambista.
No último desfile, o Sambão fez homenagem ao escritor piauiense Júlio Romão com samba-enredo. O bloco que virou escola de samba, e voltou a ser bloco, pois antes de ser Escola de Samba, o Sambão era bloco e, com a ausência dos desfiles, voltou a ser bloco em 2017 para não deixar de participar da programação de carnaval, com a Bateria Pulsação.
“A Escola de Samba surgiu oficialmente no ano de 1973, antes saímos como bloco. Os moradores se reuniam para a festa, facilmente a gente juntava uns 100 jovens, o Centro naquela época era habitado por muitas famílias. Nós íamos visitar os ensaios da Império do Samba, no Mafuá, a gente achava muito bonito até que decidir fazer um aqui (na Baixa da Égua)”, conta um dos fundadores.
“O povo de Teresina já se identifica com a folia do Carnaval. Eu já estive presente em muitos eventos de Carnaval aqui e é impressionante a animação do povo. É a coisa mais linda. Mas, neste ano, não tem Escola de Samba, que é o principal, mas nós vamos fazer um desfile pequeno, com os próprios participantes, para não deixar passar em branco”.
Neste ano, a escola ganhou um novo espaço para os ensaios, também na região da Baixa da Égua, pois perderam a antiga quadra em uma disputa judicial. “A gente sofreu com essa perda, mas o carnaval continua e já estamos com um novo espaço”, disse Messias. O novo endereço é na Rua Benjamin Constant, a poucos metros da antiga quadra.
SAIBA MAIS SOBRE O SAMBISTA MANOEL MESSIAS EM ENTREVISTA COM CAMI RABÊLO PARA O SITE DO GELÉIA TOTAL
Memórias do Centro de Teresina: Carnaval e a Baixa da Égua, por Cami Rabêlo
“Nasci na comunidade da baixa da Égua/ Sou rosa e branco, me respeite seu doutor/ No Samba fiz minha história, são muitos anos de glória/ Eu sou Sambão, com orgulho eu sou”
Nasci mesmo na comunidade baixa da égua! Se alguém te mandar ir para a baixa da égua, certamente você passará em frente a minha casa.
Esse lugar no centro norte de Teresina e suas memórias são um registro forte da identidade do nosso povo e principalmente da história do carnaval Teresinense.
A memória, mesmo que calada vive. Vive nas nossas ruas, nos sambistas que por aqui passaram e passam, em mim, na minha família, nos meus ancestrais e em todos que aqui cresceram, mas faço o convite para que viva também em vocês, para não deixar o Sambão morrer.
Moro exatamente no “miolo”, como se diz. Sou vizinha do conhecido “ Seu Manel Messias”, Manoel Messias do Espírito Santo, que é músico, compositor, sambista, inventor, uma figura indispensável na nossa cultura, que carrega bordado na camisa, lado esquerdo do peito o brasão da Escola de Samba Sambão, amada Rosa e branco representada pela égua branca da baixa da égua.
Não é difícil acordar com um estrondoso: “ Alô comunidade da baixa da éééééégua”
Saindo das caixas de som do meu vizinho. Conversei um pouco com ele, para que dividisse com a gente suas valiosas lembranças:
Cami Rabêlo: Qual é a primeira memória que o senhor tem do carnaval do centro de Teresina?
Manoel Messias: Essa memória vem ainda da década de 40, quando eu era jovem ainda, quando a escola de Samba… É… Nova Escola de samba que era aqui no largo da penitência , de Manoelzinho Alves Campelo (atual Rua Clodoaldo Freitas, ao lado do estádio de Futebol Lindolfo Monteiro ) desfilou ali na praça Rio Branco.
Naquele tempo o percurso que as escolas faziam passava aqui na Praça Rio Branco, contornava ali a rua Paissandu, passava em frente ao Teatro 4 de Setembro e aí voltava. Naquele tempo não tinha essa questão, aquele compromisso de Desfiiiiile Oficiaaaal, de ter horário certo. Era aquele carnaval espontâneo, num sabe? Onde as escolas também não tinham grande aparato de estrutura. Era só os batuqueiros, os ritmistas e tinha o estandarte, o porta estandarte né, que levava uma bandeira da escola, o símbolo maior. Então aquele carnaval era um carnaval natural… esse corso aí que tem hoje em dia, rum, era um corso que existia durante os três dias, quem tinha seus carro Jeep ou até um caminhão ornamentava esse seu transporte, botava o pé no caminho e saía durantes os dias aquele percurso, saía nas escolas de samba, naquele horário entre quatro horas, cinco horas. Era espontâneo com muita gente brincando, se jogando talco, serpentina, confete, mangando dos outros. Carnaval do povo sem apoio do governo do estado, simplesmente eles botavam a disposição da escola vencedora um troféu.
Então essa memória, ficou gravada na minha memória… Porque antes era composta pelos brincantes, pelos trabalhadores, por todo mundo e cada qual bancava sua própria fantasia. Mais aí quando veio querer começar a fazer o carnaval do Rio de Janeiro aqui, aí veio uma época aonde a prefeitura apoiava, mas aí com a retirada desse apoio as escolas despencaram… mas não tem condição de fazer uma escola aqui imitando Rio de Janeiro. Isso é caro… aí nós estamos oque, esperando uma oportunidade da escola de samba ser retomada, mas dentro das condições da gente aqui… com a nossa cara e tudo mais. Repensar.
Cami Rabêlo: E como o senhor acredita Seu Manel, que seria uma alternativa pra que a escola de samba trouxesse novamente a sua força e participação nos carnavais de Teresina?
Manoel Messias: Juntando todos os poderes. Primeiramente a força do povo e depois vinha a prefeitura, os empresários, a própria escola de samba através liga das escolas de samba.
Não ficar só na direção de uma única entidade. Se organizar. Fazer atividade o ano todo. Até porque tem espaço pra todo mundo, pro corso da vida, pros capotes, pra Zé pereira, pra tudo… e tem que ter espaço pras escolas de samba e os blocos. Esse negócio aí de exaltar alguém e discriminar o outro, não. A gente é que trabalhar em conjunto.
E eu já até falei pra alguns políticos que o que encarece também é a própria estrutura. Veja só, a importância de um espaço aonde possa ter escola de samba, festa junina, sete de setembro… espaço público preparado pra vários eventos acontecerem …
Cami Rabêlo: E a Escola de Samba Sambão? Como surgiu? Qual a história por trás desse nome?
Manoel Messias: Foi exatamente na década de 70.
Em 1971, aqui morava muita gente no centro, não existia muito esses conjuntos habitacionais e o centro era o foco da moradia, da habitação de muitas pessoas. E aí o que… Aqui tinha muitos jovens, rapazes, estudantes que habitavam aqui essa conhecida baixa da égua. Aí nós nos reunimos aqui na Quinta Velha, tinha um grande pé de umbuzeiro, aí a gente já era adepto, admirador da Escola de Samba Império do Samba, aqui na vila operária, no Mafuá precisamente. Nós íamos assistir o desfile lá em 72 e pensamos “ Vamos fazer uma escola gente ?”
E foi feita a Escola. A escola de princípio, no início era composta só de moradores do centro. Cada família que tinha filhos envolvidos, ela se envolvia também com a escola. Eu me lembro de que todas as casas aqui realmente se transformavam em costureiras e os pais ajudavam os filhos a comprar as fantasias. Os instrumentos eram feitos por nós mesmos, tipo artesanalmente, coberto com coro, até coro de cobra. Naquela época não era proibido não (risos)
Então que acontece. A escola nasceu livre, cresceu, cresceu, espontânea, sem onerar ninguém. E cresceu ao ponto de no ano que ela foi inaugurada e ela saiu pela primeira vez em 1973, no meio de grandes escolas de samba como Império do Samba, Escravos do Samba, Malucos por Samba…Escolas da zona norte, da zona sul. E a escola de samba Sambão foi terceiro lugar no meio de várias que já existiam. Depois teve uma sequência de vitórias. Olhe, tem uma coisa que o Sambão sempre primou que foi uma boa bateria.
A escola se caracteriza por ter grandes mestres de bateria, grandes músicos , meu filho foi um deles, o Juroba. Aí que acontece, a Escola sempre ficou conhecida como Bateria nota 10.
Cami Rabêlo: E o nome Sambão?
Manoel Messias: Surgiu mesmo em 73, um jovem colocou “ Que tal o nome Sambão?” E aí pegou… o aumentativo de Samba, o Sambão. E aí ficou na boca do povo e é um Sambão mesmo o Sambão. (gargalhadas)
Cami Rabêlo: E quais foram os temas que o Sambão já trouxe pra avenida?
Manoel Messias: Muitos. A gente sempre procurou trazer temas atuais. O primeiro samba foi exaltando o próprio Samba.
Aí depois teve Saudação aos Orixás, prestamos homenagem a Imperatriz Teresa Cristina, Signos Zodiacais, aonde a escola ganhou o bicampeonato. Já Cantamos Zumbi dos Palmares, Folclore de Teresina, Jornalista e Radialista Carlos Said, Homenagem a mãe África, Esperança Garcia. O Sambão se identifica mais com o tema afro, nosso povo negro. Homenagens às coisas da terra, da nossa gente, sempre foi assim, vai ser sempre assim.
Cami Rabêlo: O que o Sambão Significa pro senhor?
Manoel Messias: Ah, o Sambão pra mim é tudo. Até porque eu nasci e me criei aqui na Baixa da Égua, já estou com 70 anos. Sambão é a minha escola. Pra mim é como um time de futebol, você não pode amar a dois senhores. Minha escola é o Sambão, a Rosa e Branco. Sempre me dediquei. Um escola Feita por grandes entusiastas, grandes apoiadores aqui. Sempre vou torcer para que o Sambão permaneça. Nós temos que preparar uma nova geração pro Sambão continuar, porque o que acontece aqui em Teresina, quando uma pessoa que encabeça determinada coisa morre, geralmente a coisa morre com ele, desaparece a atividade. Assim aconteceu com os Escravos do Samba, quando o Seu João Borges morreu acabou a Escravos do Samba. Quando o Zeca morreu, o Império do Samba Acabou e assim outras escolas.
Esse grupo Jovem daqui, essas cabeças brilhantes daqui da Baixa da Égua , inclusive você, esse povo é que tem que levar o Sambão pra frente e assim, tem outros jovens que podem chegar. Esse povo novo, levem a memória pra frente. Manter a nossa cultura. Sempre quis manter ela viva e presente.
Cami Rabêlo: O Sambão vive!
Manoel Messias: E viverá! É a Escola do povão. Aqui desfila todo mundo misturado, aqui não há preconceito. O que eu quero dizer e que o Sambão está aberto pra vocês, pra quem quiser chegar. Não vamos deixar o Sambão morrer.
“Mas quem pensa que o Sambão morreu aí/ Ficou louco e não viu o que eu já vi/ Onde foi casa é sempre Tapera e o Sambão/ Vai viver pra Galera”
Cami Rabêlo: Seu Manel, existem várias versões pro surgimento desse nome, Baixa da Égua. Conta aqui pra gente a sua versão.
Manoel Messias: O que eu aprendi e ouvi meus antepassados falarem foi que em Teresina, nas décadas passadas, o meio de transporte era carroça, não existia carro em Teresina. E aqui na beira do Rio Parnaíba juntava aquelas balsas, que vinha realmente lá da região Sul, trazendo talo de coco, buriti, palha, e vinha também com potes, produtos que eram vendidos aqui no mercado de Teresina e os carroceiros na época realmente tinha esse transporte pra transportar esse material pra vender pras pessoas daqui e você sabe né, carroça é tração animal, puxada então também pelas éguas, burro, cavalo.
Ai que acontece, os carroceiros aproveitavam os pastos que tinha na região. Aí uma égua subiu ali no rumo do Atual Liceu Piauiense, ali era um grotão, pastou e estava na fase do cio.
Ai ela foi perseguida por um cavalo, desceu aqui pra essa região, caiu num barranco e morreu com o pescoço quebrado. E aí surgiu esse nome porque ela apodreceu ali mesmo. Naquele tempo não tinha esses serviço pra limpeza etc. Os urubus deram logo em cima.
Então quando o povo passava e sentia a catinga se respondia logo que era uma égua que tinha morrido lá na baixa da Égua. A história é essa.
Cami Rabêlo: Agradeço seu Manel, por compartilhar com a gente a sua experiência e essa história tão rica e necessária.
Manoel Messias: Tô esperando vocês Jovens e quem mais quiser toma de conta, ajudar a fortalecer a baixa da Égua, o Centro de Teresina e o Sambão. Manter a baixa da Égua viva.
Fontes: Entrevistas de Cláudia Simone com Manoel Messias, Cidadeverde.com, Entrevista de Cami Rabelo com Manoel Messias para o Geléia Total.