TORQUATO NETO É HOMENAGEADO PELO MÚSICA PARA TODOS
O Projeto Música Para Todos realiza a SEMANA TORQUATO NETO, com a Exposição TORQUATO NETO – MENINO INDIGESTO, que traz Cartuns de artistas nacionais e internacionais retratando o Anjo Torto piauiense, e a Palestra do escritor, editor, jornalista e pesquisador Kenard Kruel.
Como hoje é o aniversário do poeta multimídia Torquato Neto resolvemos parabeniza-lo publicando esse Biografia que mescla pesquisa e informação do escritor e palestrante Kenard Kruel.
SAIBA UM POUCO MAIS SOBRE TORQUATO NETO
Torquato Pereira de Araújo Neto nasceu em Teresina, 9 de novembro de 1944 e morreu no Rio de Janeiro em 10 de novembro de 1972, foi poeta, ator, cineasta, jornalista, letrista de música popular, experimentador ligado à contracultura.
Torquato Neto era o único filho do defensor público Heli da Rocha Nunes (1918 – 2010) e da professora primária Maria Salomé da Cunha Araújo (1918 – 1993).
De Teresina, mudou-se para Salvador aos 16 anos para os estudos secundários, onde foi contemporâneo de Gilberto Gil no Colégio Nossa Senhora da Vitória (Marista) e trabalhou como assistente no filme Barravento, de Glauber Rocha. Torquato envolveu-se ativamente na cena soteropolitana, onde conheceu, além de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Maria Bethânia.
Em 1962, mudou-se para o Rio de Janeiro para estudar jornalismo na universidade, mas nunca chegou a se formar. Trabalhou para diversos veículos da imprensa carioca, com colunas sobre cultura no Correio da Manhã, Jornal dos Sports e Última Hora. Torquato atuava como um agente cultural e polemista defensor das manifestações artísticas de vanguarda, como a Tropicália, o cinema marginal e a poesia concreta, circulando no meio cultural efervescente da época, ao lado de amigos como os poetas Décio Pignatari, Augusto e Haroldo de Campos, o Cineasta Ivan Cardoso e o artista plástico Hélio Oiticica. “escute, meu chapa: um poeta não se faz com versos. E o risco, é estar sempre a perigo sem medo, é inventar o perigo e estar sempre recriando dificuldades pelo menos maiores, é destruir a linguagem e explodir com ela (…). Quem não se arrisca não pode berrar.”
Nesta época, Torquato passou a ser visto como um dos participantes e idealizadores do Tropicalismo, tendo escrito o Breviário Tropicalismo Para Principiantes, no qual defendeu a necessidade de criar um “pop” genuinamente brasileiro: “assumir completamente tudo o que a vida dos trópicos pode dar, sem preconceitos de ordem estética, sem cogitar de cafonice ou mau gosto, apenas vivendo a tropicalidade e o novo universo que ela encerra, ainda desconhecido”.
Torquato também foi um importante letrista de canções icônicas do movimento tropicalista.
No final da década de 1960, com o AI-5 e o exílio dos amigos e parceiros Gil e Caetano, viajou pela Europa e Estados Unidos com a mulher, Ana Maria Silva De Araújo Duarte, e morou em Londres por um breve período.
De volta ao Brasil, no início dos anos 1970, Torquato começou a se isolar, sentindo-se alienado pelo regime militar. Passou por uma série de internações para tratar do alcoolismo e rompeu diversas amizades. Em julho de 1971, escreveu a Hélio Oiticica: “o chato, Hélio, aqui, é que ninguém mais tem opinião sobre coisa alguma. Todo o mundo virou uma espécie de Capinam (esse é o único de quem eu não gosto mesmo: é muito burro e mesquinho), é o que eu chamo de conformismo geral
É isso mesmo, a burrice, o é escapismo, vanguardismo de Capinam que é o geral, enfim, poesia sem poesia, papo furado, ninguém está em jogo, uma droga. Tudo parado, odeio.”
Torquato se matou um dia depois de seu 28º aniversário, em 1972. Depois de voltar de uma festa, trancou-se no banheiro e abriu o gás e isso levou muita gente pensar que torquato foi morto pelo regime militar. Sua mulher e seu filho thiago de apens 2 anos, dormiam em outro aposento da casa. O escritor foi encontrado na manhã seguinte pela empregada da família (maria das graças, que mais tarde adotou o nome de gal, sugerido pela própria gal costa, sua homônima [frequentadora assídua da casa de torquato]).
Foi pensando na morte do amigo que caetano veloso escreveu a canção “cajuína”, incluída no disco cinema transcendental. Os versos da canção relatam o encontro de caetano com o pai de torquato, em teresina, algum tempo depois da morte do poeta.
Na década de 1980, a partir de 1984, as gerações mais recentes puderam apreciar o talento poético de Torquato através do seu poema, ”Go Back” (1971), que, naquele ano, recebeu a primeira gravação musical do grupo Titãs, com música feita pelo tecladista e um dos cantores do grupo, Sérgio Britto. A popularidade da canção seria consagrada em 1988, quando os Titãs deram um arranjo ainda mais vigoroso à música. “Go Back” é a faixa-título de um disco gravado em Montreux, na suíça.
O escorpiano Torquato Neto, veio ao mundo às 16 horas e 48 minutos do dia 9 de novembro de 1944, uma quinta-feira com o céu todo azul e sol a pino, na clínica obstetra localizada no segundo pavimento do hospital Getúlio Vargas, em Teresina.
Seu Heli e D. Salomé fixaram residência na rua São João (antiga Pacatuba). Mudando após para a Rua Sete de Setembro (antiga Miguel Couto), Rua Coelho de Resende, 249, sul, onde o corpo de Torquato Neto foi velado, e, por fim, na rua Visconde da Parnaíba, 1618.
Com o falecimento de dona Salomé – 10 de março de 1993, dr. Heli nunes mudou-se para picos, onde mantinha uma propriedade com várias crianças adotadas.
Torquato saiu de Teresina aos 15 anos para estudar ‘com os maristas’, em salvador, e depois, já no rio, abandonou um curso de diplomata para escrever em jornal e fazer poesia. ‘nós nunca tivemos recursos. Tudo o que ele fez foi graças ao próprio esforço’, diz o pai do poeta, homenageado por Caetano Veloso na canção Cajuína.
A letra faz referência a uma visita que Caetano fez em Teresina ao dr. Heli, durante a qual este lhe deu uma rosa. Cajuína é uma bebida que os pais de Torquato costumavam mandar para ele quando morava em salvador”.
Estudou o jardim de infância, no tradicional colégio sagrado coração de jesus (colégio das irmãs), localizado em pomposo prédio na avenida frei serafim (central e principal de Teresina).
Por ser um menino inquieto, de comportamento já estranho para a sua idade / época e, principalmente, para as rígidas normas do colégio das irmãs, torquato neto estava sempre de castigo, retido na sala de aula, sem poder brincar com os colegas na hora do recreio.
Começou a rejeitar a escola. Amuado, ficava trancado dentro do quarto, sem querer papo e se recusando a se alimentar.
Preocupado, Dr. Heli nunes resolveu tirá-lo do colégio das irmãs e matriculá-lo na escola particular da professora Vilma de Castro Lopes Rêgo.
Depois de algum tempo, Torquato Neto foi matriculado no colégio batista, ou colégio americano
Depois disso Torquato foi estudar no ginásio Leão XIII –e no exame de admissão, passou com uma das notas mais altas: segundo ele, a sua matéria preferida era português. “eu estudava as coisas direitinho. Mas, o que eu gostava mesmo era de escrever”.
Dona Salomé, querendo agradar o filho pelo resultado alcançado, perguntou que presente ele gostaria de ganhar. “a coleção completa do poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare, mestre da língua inglesa, e a obra completa de Machado de Assis, mestre da língua portuguesa”, respondeu.
Vai bicho, desafinar o coro dos contentes – educado para a carreira diplomática, desde pequeno tinha aulas de inglês, francês e espanhol. Adolescente, lia sommerset maughan, edgar alan poe e werner keller (e a bíblia tinha razão). Em poesia, renegava os românticos e se dedicava aos simbolistas e modernistas. Dos piauienses, lia muito mário faustino, mais velho do que ele 14 anos, e que já havia lançado o homem e sua hora (edições do porto, 1955).
Quando terminou o ginásio, em 1959, pediu para ir para salvador, que estava atraindo jovens de vários lugares. O reitor edgard santos abriu as portas da universidade para os maiores talentos da época, tanto do brasil quanto do exterior. E para lá se foi torquato atrás de novos conhecimentos, de novos rumos. De lá foi para o rio, são paulo, europa, estados unidos, e só voltou para ficar na saudade de todos nós”.
Antes de aportar em salvador, passou uma temporada em ipanema, no rio de janeiro, com o amigo e ilustrador joão viana, o jota, com quem iria compor quem dera. Ficou encantado com cidade e com a amizade feita com o vizinho jards macalé, que, futuramente, viria a ser um de seus parceiros em composições famosas, como let’s play that.
Torquato neto chegou a salvador no início de 1960. Iria cursar o científico no colégio nossa senhora da vitória, o mesmo internato da congregação dos irmãos maristas, onde, numa turma mais adiantada, estudava gilberto gil (que se preparava para entrar na faculdade de engenharia, em respeito a um pedido do pai, o que não acontece: sem conseguir êxito no vestibular, ingressaria no recém-criado curso de administração de empresas, da universidade federal da bahia, em 1961).
Em salvador, além da mesada mensal enviada por dr. Heli nunes, torquato neto recebia de dona salomé, religiosamente, uma caixa de produtos de higiene e mantimentos. Entre outros itens, não faltavam carne de sol, sabonete alma de flores, pasta dental philips e lenços bordados com as iniciais tn. Sem falar nas roupas, sempre as mais tradicionais e cafonas, que o acabavam convertendo numa figura pitoresca.
Torquato neto vivia desenhando e enchendo os cadernos de poemas. Em pouco tempo passou a colaborar com os jornais da escola, com “poesias francamente drummondianas, bonitas, elegantes, que soavam bem, sensíveis e sóbrias, delicadas e longas, que um dia possivelmente seriam um livro”, analisa e profetiza caetano veloso.
Vidrado na sétima arte, torquato neto não perdia uma sessão nos cinemas locais e comprava tudo o que se relacionasse ao assunto. Era, então, um fã de carteirinha de glauber rocha, que, com os artigos críticos, abria o seu mundo e o preparava para futuras incursões nesta área.
Tendo como ponto de convergência o centro de cultura popular da união nacional de estudantes (une), que tinha um ramal em salvador e promovia atividades culturais e artísticas na cidade, estudantes de vários níveis e graus se conheceram: torquato neto foi apresentado por duda machado a caetano veloso,
Gilberto gil relembra aquele tempo de muvuca cultural: “(…) Quando, estudantes em salvador, todos em diferentes níveis e graus, eu, capinan, caetano, tom zé, torquato neto, waly salomão, duda machado, álvaro guimarães, rogério duarte, fernando batinga e tantos outros vivíamos o dia-a-dia da iniciação nas lides culturais, na política estudantil, nas experiências do sexo, do amor, da aventura de conduzir-nos, num incessante entra-em-beco-sai-em-beco corpoalma adentro de uma cidade mítica, bela e sensual, de mil histórias antes por outras gentes e poetas vividas e mais outras tantas mil histórias então por outras tantas gentes e poetas por viver. Éramos todos, ali, um uníssono unissonho de sermos – nos tornarmos – gentes e poetas a um só tempo.
Torquato neto, em entrevista ao poeta e jornalista menezes y morais, editor de cultura do jornal o dia, de teresina, fala daquela época: “a experiência era só cineclubismo mesmo. A gente era vidrado em cinema. Falava-se nisto de manhã, de tarde, de noite. Glauber rocha, era por volta de 1960, começou na bahia o movimento cinema novo e justamente nesta época ele filmava barravento, o primeiro grande filme brasileiro. E nós fizemos então um filme que, na verdade, foi dirigido por alvinho guimarães, que terminou hoje em dia sendo editor de verbo encantado – que já acabou no vigésimo número, há poucos dias. O filme chamava-se moleques de rua, feito por todos nós, alvinho, caetano, duda, eu e mais alguém que se perdeu no tempo”.
Torquato neto jamais cogitara ser diplomata, como a família desejava. Totalmente impregnado pela produção cultural e com a ação política do cpc, em salvador, escreveu aos pais uma carta (acompanhada de vários artigos e poemas publicados nos jornais do colégio) pedindo permissão para se mudar para o rio. Alimentava o propósito de buscar espaço na chamada grande imprensa e fazer jornalismo na área cultural. Com o consentimento de dr. Heli e de dona salomé nunes, deixou salvador em janeiro de 1962.
No rio de janeiro, matriculou-se no curso hélio afonso – pré-vestibular às faculdades de direito e filosofia. No ano seguinte passou para jornalismo na faculdade de filosofia da universidade do brasil. Começou a frequentar a sala de aula, aguentando até o segundo ano, “aí achei que o negócio tava muito chato e larguei tudo”.
O cineasta rui guerra apresentou edu lobo a torquato neto. Iniciam, de imediato, uma parceria musical, curta, porém marcante para ambos. “trabalhamos durante três meses, foi quando fizemos veleiro, lua cheia e pra dizer adeus, que considero uma das minhas três melhores músicas, ainda que só três anos depois fosse estourar”, declara edu lobo, que, sentindo o parceiro estar precisando de uma mudança de vida e de ares, sugeriu que se mudasse para são paulo, o que torquato neto fez em 1966.
Gilberto gil estava em são paulo, com a mulher belina, em salvador, e passou a hospedar amigos como torquato neto, josé carlos capinan, geraldo vandré e o próprio cineasta e eventual letrista rui guerra. Sua residência era um lugar muito apropriado, no afastado bairro de cidade vargas, no extremo sul da cidade. Não foi à toa que logo ganhou o apelido de “pensão dos baianos”.
O convívio com os poetas e teóricos da poesia concreta, os irmãos augusto e haroldo de campos e décio pignatari, fez com que torquato neto mudasse de opinião e se interessasse pelo movimento concretista, participando e divulgando-o intensamente.
Na inauguração do teatro da une – união nacional dos estudantes, no antigo villa-lobos da praia do flamengo, em 1963, conheceu a baiana de ilheus ana maria dos santos e silva, com quem se casaria em 11 de janeiro de 1967, apadrinhado por gilberto gil. Em 27 de março de 1970, nasceu o filho thiago, piloto de avião,
Ronaldo bôscoli lembra que “quando torquato casou, era ainda muito importante para a patota baiana. Que – honra lhes seja feita – iniciavam um rompimento de estruturas. Mas todo mundo muito paisano, ainda. Torquato casou numa igreja linda e antiga. Lembro-me de que cheguei cedo demais e visitei a igreja e seus pátios seculares. O casamento foi tão careta que a noiva – como manda o figurino – chegou mesmo. Embora com atraso, e numa limusine destas que só pintam em casamento. Por pouco o casamento não vira uma grande festa tropicalista.
Tudo estava programado para isto acontecer. Meia hora antes o padre já estava nervoso: ia celebrar o casamento de torquato neto, o mais ativo letrista do chamado grupo baiano, com ana maria dos santos e silva, e tinha medo de que, na hora h, começassem a aparecer violões perto do altar. Realmente, estava programado um show para a cerimônia, em que tomariam parte todos os artistas amigos do casal. Diante, porém, da solenidade do padre ao declarar que não permitiria samba na igreja, acharam melhor deixar a farra para a chopada na casa da noiva.
Torquato neto ganhou uma bolsa de estudo para escrever sobre as influências africanas na música popular brasileira. Hélio oiticica iria expor na whitechapel gallery, em londres. Singraram juntos o atlântico no dia 3 de dezembro de 1968. Ao todo, passariam catorze dias em alto mar, fazendo escalas em vigo, na espanha, e em rotterdam, na holanda, onde ficaram sabendo que o presidente militar costa e silva assinara, no dia 13, o famigerado ai-5, logo batizado por eles de “blitzfacista”.
A bbc de londres fez uma entrevista com torquato neto, que, por sua vez, entrevistou o mito jimi hendrix, com quem escutava “aquele álbum branco dos beatles”. A entrevista de jimi hendrix foi enviada para a revista cláudia, da editora abril, que, além de não publicá-la, perdeu o original.
Em londres, ainda, os mutantes (rita lee, sérgio e arnaldo batista) encontram-se ali, sentindo a liberdade de andarem pelas ruas, com os seus cabelos compridos, suas roupas diferentes dos padrões normais, sem que as pessoas ficassem olhando, como acontecia no brasil.
Tentativa de montar um novo grupo – “no dia 5 de dezembro de 1969, torquato neto e ana maria embarcaram em um voo da varig, com destino ao rio de janeiro. Estavam retornando da europa. Torquato neto estava lá desde o dia 3 de dezembro de 1968. No rio, foram morar no apartamento da família de ana. Saudoso da família e dos amigos, veio a teresina e, em reunião conosco, disse do seu rompimento com o grupo baiano, da sua briga inconsequente com hélio oiticica, em londres, da censura em suas letras, do boicote nos meios de comunicação, e que estava aqui para montar um novo time de trabalho. A mim, em particular, pediu que o ajudasse a convencer o compositor carlos galvão, o artista gráfico arnaldo albuquerque, os músicos renato piau e bugyja brito a se mudarem para o rio, com esta proposta de um trabalho coletivo. Ele estava decidido a dar a volta por cima, esquecer de vez os baianos. De volta ao rio, alugou um estúdio, que ficava em cima do bar amarelinho, no 9º andar, e, juntamente com luiz otávio pimentel, waly salomão, carlos pinto, vinicius cantuária, luís moreno e magão, estes três últimos que foram do terço, um dos melhores grupos de rock da época, procurou iniciar uma nova etapa na vida dele. Torquato neto pediu que me trabalhassem bem porque, a partir daquele momento, eu seria a sua nova intérprete e eles os novos parceiros musicais dele. Mas não era para fazerem música ao estilo de gal costa e de maria bethânia e sim ao meu estilo. Começamos a ensaiar, passamos a ter um convívio quase que diário na casa de torquato neto, no meu apartamento, na rua mena barreto, em botafogo, ou no apartamento de bugyja brito, em caxambi, 184, apartamento 201, no meyer. Porém, a coisa não vingou. Torquato neto não esquecia os baianos, se esforçava para fazer novas composições, mas não dava e, além do mais, havia o grupo dos cineastas, formado por júlio bressane, rogério sganzerla, luiz otávio pimentel e ivan cardoso, que o interessava mais. Ele sempre foi mais ligado ao pessoal do cinema do que ao da música, até porque aqueles eram amigos mais verdadeiros, como ficou provado”, lembra lena rios.
A volta, em 69, meio sem graça – em entrevista à turma da página comunicação (jornal opinião, de 31 de janeiro de 1971), torquato neto desabafa: “eu fui pra europa antes de caetano veloso e gilberto gil, em 1968, passei o ano de 69 todo lá. Encontrei-me com caetano em paris, quando eles saíram do brasil. Voltei no fim de 69, meio sem graça e querendo recomeçar aquela minha jogada de cinema, já que não tinha interesse pra eu continuar fazendo música, porque a minha condição de trabalho foi sempre com relações de amizade.
Só sei trabalhar com pessoas de quem gosto muito e de quem não discordo em nada. Isso é meio difícil da gente encontrar. Depois que cheguei, andei fazendo umas músicas com nonato buzar, pra ganhar dinheiro. E, por último, perto de vir pra cá, eu comecei um trabalho com o macalé, que está me interessando muito. Nada disso foi divulgado e eu nem sei como está. Fizemos seis músicas e a censura cortou quatro. Duas ainda não sei se vai dar pé de gravar. Só vou voltar no fim de março e não sei… A gente tem que enfrentar isso tudo pra trabalhar hoje em dia. E, pra fazer só aquela coisa bendita, abençoada, é meio chato e eu não aguento. Tenho muito pouco a ver com música. Quase nada mesmo. Meu negócio agora é outro. Estou mais ligado agora a cinema”.
Em janeiro de 1971, Torquato Neto veio passar o carnaval em Teresina, trazido pela escola de samba Brasa-Samba, dirigida pelo baterista cearense Edmilson Morais de Amorim, e pelo teatrólogo e radialista, também cearense Ary Sherlock, e outros mais. Na oportunidade, compõe, com Silizinho, Brasa Samba, o samba-de-enredo da agremiação, que conquistou o vice-campeonato naquele ano, informa Ary Sherlock, acrescentando que “todo mundo vibrou, todo mundo cantou, no asfalto e nos clubes, Brasa-Samba”.
Torquato Neto tinha paixão enorme pelo carnaval. Sua obra está repleta de referências a esta que ele considerava a maior festa popular aberta do planeta. Paulo José Cunha confirma: “Torquato Neto tinha paixão por carnaval,
Era muito comum, nos carnavais de Teresina, jogar lança-perfume nos chamados corsos, sendo um dos mais famosos o das raparigas da Paissandu, uma das zonas de cabarés das mais tradicionais e ainda hoje existente na cidade, sem brilho em face da ação devastadora da especulação imobiliária. Nos tempos de glória, em caminhões disputadíssimos, as raparigas vinham da zona da Paissandu, cortavam a Praça Pedro II e subiam na direção da avenida frei serafim. Super apetitosas, na plenitude de suas formosuras, promoviam festa nos olhos e alegria no coração dos mais afoitos. Elas vestiam suarês (saias enormes que cobriam as grades dos caminhões), confeccionados em laquê, tafetá e failete, nas cores azul-celeste, vermelho e amarelo dourado.
No carnaval teresinense de 1971, Torquato Neto convidou os amigos mais chegados para saírem vestidos como as antigas raparigas, com sombrinhas de melindrosas e todos os apetrechos que lembrassem as “meninas boas de famílias más”. Em cima do caminhão, ao passar em frente ao local em que estava a família, torquato neto, julgando-se irreconhecível, teve a surpresa de ser chamado pelo nome por sua avó sazinha. “mas, como a senhora me reconheceu, vó, se estou irreconhecível?”, perguntou ele, no que ela, rindo muito, respondeu: – “pelos pés, meu querido, pelos pés. É difícil uma mulher, mesmo da vida, ter um pé 44.”
Paulo José Cunha, uma das raparigas carnavalescas, revela que este foi um dos melhores momentos de Torquato Neto naqueles tristes anos. “ele era só felicidade pela vitória da Brasa Samba e por estar entre os amigos, de maneira tão descontraída e carinhosa. Mas, nem tudo era samba, tinha o dia seguinte, e ele teve que voltar ao Rio de Janeiro, para o seu inferno astral. Partiu no dia 24 de março. Já estava nos seus últimos momentos”, acrescenta o jornalista e primo do poeta.
E para encerrar essa homenagem o poema Cogito de Torquato Neto:
Eu sou como sou pronome pessoal intransferível
Do homem que iniciei na medida do impossível
Eu sou como sou agora
Sem grandes segredos dantes
Sem novos secretos dentes nessa hora
Eu sou como sou presente
Desferrolhado indecente
Feito um pedaço de mim
Eu sou como sou vidente
E vivo tranquilamente
Todas as horas do fim