BRASIL, CIÊNCIA E ARTE: O QUE TEM HAVER CÉSAR LATTES, CARTOLA, CARLOS CACHAÇA, PITÁGORAS E GILBERTO GIL?
Cesare Mansueto Giulio Lattes, mais conhecido como César Lattes (Curitiba, 11 de julho de 1924 — Campinas, 8 de março de 2005), foi um físico brasileiro, descobridor do méson-π (méson pi ou píon), descoberta que levou à concessão do Prêmio Nobel de Física de 1950 a Cecil Frank Powell, líder da pesquisa, pois na época, o Nobel só premiava o líder da pesquisa, hoje é diferente, mas nem tanto, pois o Google homenageou o centenário deste grande cientista, só que somente quem teve curiosidade e tempo quis saber quem era aquele brasileiro indicado 7 (sete) vezes para receber o Prêmio Nobel de Física.
Mais uma vez nos vem aquela máxima… “muitos serão chamados e poucos os escolhidos” e ao mesmo tempo nos perguntamos, quantos dos nossos alunos vão ler essa matéria até o fim? Porque hoje em dia o tempo é ouro, não é mais como na Grécia antiga quando o cidadão grego não precisava trabalhar, precisava só pensar, estudar e filosofar… como se isso não fosse um árduo trabalho da maioria dos filósofos que queriam responder os questionamentos mais profundos da humanidade! O tempo sempre relativo como nos mostra a ciência, a arte, a cultura e a religião. Mas vamos avante em nossa história…
Embora Lattes fosse o principal pesquisador e primeiro autor do artigo que descreve o méson pi, apenas Cecil F. Powell foi agraciado com o Prêmio Nobel de Física, em 1950, por “seu desenvolvimento do método fotográfico de estudo dos processos nucleares e suas descobertas em relação a mésons feitas com este método”. A razão para esta aparente negligência é que a política do Comitê do Nobel, até 1960, era conceder o prêmio ao líder do grupo de pesquisa, apenas. Entre 1949 e 1954, Lattes foi indicado 7 (sete) vezes ao Nobel de Física. Em 1965, Lattes recebeu o título de doutor honoris causa da Universidade de São Paulo.
Lattes é um dos mais ilustres físicos do Brasil e seu trabalho foi fundamental para o desenvolvimento da física atômica no país. Foi também um grande líder no meio científico brasileiro e um dos principais responsáveis pela criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Em sua homenagem, o CNPq deu seu nome ao sistema utilizado para cadastrar cientistas, pesquisadores e estudantes. Isso porque o nome de Lattes fundamentou a apresentação do Projeto de Lei 164/1948, que propunha a criação do CNPq. A Plataforma Lattes é uma base de dados de currículos e instituições de todas as áreas do conhecimento. O Currículo Lattes registra a vida profissional dos pesquisadores, sendo elemento indispensável à análise de mérito e competência dos pleitos apresentados a quase todas as agências de fomento no Brasil. César Lattes é um dos poucos brasileiros a figurar na Biographical Encyclopedia of Science and Technology, de Isaac Asimov, bem como na Encyclopædia Britannica e no Oxford Companion to the History of Modern Science.
Arte e ciência se encontram na humanidade. Não existe uma humanidade sem a ciência e muito menos sem a arte, pois ambas são maneiras de explicar o mundo e a existência humana, além de produzirem conhecimento sobre a realidade.
A música é uma das artes mais ligadas à matemática e à física. Até o século XVI, a física era considerada um ramo da matemática. No período medieval constituía uma de suas disciplinas, integrando o quadrivium: aritmética, geometria, astronomia e música.
Qual foi a descoberta de César Lattes?
Com 23 anos, César Lattes descobriu o Meson Pí ou Pion, estrutura que explica a estabilidade da matéria, que é tudo que nos rodeia, tem peso e ocupa espaço. Com isso, tornou-se mundialmente conhecido pelo feito inédito na Física, na década de 40.
De acordo com a Revista Fapesp, a descoberta ocorreu em 1947, quando Lattes trabalhava na Universidade de Bristol, no Reino Unido. “No ano seguinte, Lattes foi o primeiro a observar o mesmo píon, dessa vez produzido artificialmente no interior do acelerador de partículas da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. Em 1950, a melhoria no método fotográfico de detecção de partículas e a identificação do píon renderiam o Nobel de Física a seu ex-chefe de laboratório em Bristol, o britânico Cecil Powell (1903-1969)”.
Quem é César Lattes?
Nascido em Curitiba em 11 de julho de 1924, César Lattes graduou-se em física e matemática pela Universidade de São Paulo (USP) e com apenas 19 anos tinha trabalhos publicados em revistas internacionais de Física falando sobre a origem dos elementos do universo. Ele teve quatro filhas e foi um apaixonado pela educação.
Numa entrevista em 1995, ao programa “Meu Paraná”, da TV Globo, afirmou que não gostava de ser chamado de cientista, mas de professor.
— A palavra cientista me incomoda um pouco, dá impressão de professor pardal e também do camarada o cientista, que é um ser amoral, que não está preocupado com o que vai acontecer com a descoberta dele. Então eu não sou cientista, eu sou professor — afirmou.
Em outro trecho, defendeu reformas educacionais:
— Eu acho que os economistas que ficam dando opiniões pro governo, deviam dar ao governo um plano em que não se preocupassem em maximizar os lucros de empresa e se preocupassem em maximizar a educação do povo. Porque com a educação, qualquer um vai depois. Educação, não estou falando de ensino — afirmou.
Quando César Lattes morreu?
Lattes morreu em 2005, em Campinas, aos 80 anos.
PORQUE MÚSICA É MATEMÁTICA?
A relação entre música e matemática se observa na divisão do tempo em compassos, subdivisões e padrões rítmicos: a métrica musical, expressa em frações de tempo, revela uma clara aplicação de conceitos matemáticos na organização do fluxo temporal da composição.
Quando se observa os ritmos musicais, por exemplo, o tempo e as suas divisões (que são conceitos matemáticos) aparecem. Frequências, sons e timbres também possuem raízes matemáticas e estão presentes na música, bem como os compassos, que são tempos que se repetem.
Na prática, como já vimos, uma nota musical é formada por batidas tocadas rapidamente em sucessão (por exemplo: 220 batidas por segundo = 220 Hz). Quando tocamos duas notas ao mesmo tempo, estamos comparando um som que bate x vezes por segundo com outro que bate y vezes por segundo, resultando em uma fração x/y.
A música pode ser usada para ilustrar alguns conceitos matemáticos. As figuras de tempo (duração) das notas, por exemplo, são frações de compasso do tipo 1/2, 1/4, 1/8, etc. A altura (afinação) das notas é estabelecida por uma relação exponencial, do tipo “2 elevado a x/12”, onde x é a distância de uma nota a outra.
Em diversos elementos da música, percebe-se nitidamente a presença da matemática: nos tempos e durações dos sons; nas fórmulas dos compassos; nas medidas dos elementos sonoros, como volume e freqüência; nas alturas das notas musicais; na formação de escalas, acordes e outras relações harmônicas.
A relação entre música e matemática se observa na divisão do tempo em compassos, subdivisões e padrões rítmicos: a métrica musical, expressa em frações de tempo, revela uma clara aplicação de conceitos matemáticos na organização do fluxo temporal da composição.
Um exemplo é o compasso 4/4, que implica quatro batidas por medida, criando uma sequência regular facilmente assimilada através da linguagem matemática.
Pode-se dizer que a confluência entre a música e a Matemática se deu a partir da necessidade de buscar embasamentos científicos para a harmonia entre sons e resolver problemas entre consonância e dissonância musical.
A Pitágoras é atribuído o primeiro estudo científico da música e seus intervalos de frequências.
CARTOLA
Angenor de Oliveira, mais conhecido por Cartola OMC (Rio de Janeiro, 11 de outubro de 1908 – Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1980), foi um cantor, compositor, poeta e violonista brasileiro.
É considerado por diversos músicos e críticos musicais como o maior sambista da história da música brasileira. Tendo como seus principais sucessos as músicas As Rosas não Falam, O Mundo É um Moinho e Alvorada. Ajudou na fundação da agremiação Mangueira.
Em 1947, com “Ciência e Arte”, de Carlos Cachaça e Cartola, a escola conquistou o segundo lugar no carnaval carioca. O samba-enredo cita o físico brasileiro César Lattes, que ganhou notoriedade no Brasil e no mundo pela identificação da partícula atômica mesón pi no mesmo ano do samba.
CIÊNCIA E ARTE
Carlos Cachaça/ Cartola
Tu és meu Brasil em toda parte
Quer na ciência ou na arte
Portentoso e altaneiro
Os homens que escreveram tua história
Conquistaram tuas glórias
Epopeias triunfais
E quero neste pobre enredo
Revivê-los glorificando os nomes teus
Levá-los ao panteon dos grandes imortais
Pois merecem muito mais
Não querendo levá-los ao cume da altura
Cientistas tu tens e tens cultura
E nestes rudes poemas destes pobres vates
Há sábios como Pedro Américo e César Lattes
Tu és meu Brasil em toda parte
Quer na ciência ou na arte
Portentoso e altaneiro
Os homens que escreveram tua história
Conquistaram tuas glórias
Epopeias triunfais
E quero neste pobre enredo
Revivê-los glorificando os nomes teus
Levá-los ao panteon dos grandes imortais
Pois merecem muito mais…
GILBERTO GIL
Gilberto Passos Gil Moreira (Salvador, 26 de junho de 1942) é um cantor, compositor, multi-instrumentista, produtor musical, político e escritor brasileiro.
Conhecido por sua relevante contribuição na música brasileira e por ser vencedor de prêmios Grammy Awards, Grammy Latino e galardoado pelo governo francês com a Ordem Nacional do Mérito (1997). Em 1999, foi nomeado “Artista pela Paz”, pela UNESCO.
Gil foi também embaixador da ONU para agricultura e alimentação, e ministro da Cultura do Brasil, entre 2003 e 2008. Em mais de cinquenta álbuns lançados, ele incorpora a gama eclética de suas influências, incluindo rock, gêneros tipicamente brasileiros, música africana, funk, música disco e reggae. Em 2021, foi eleito para a cadeira de número 20 da Academia Brasileira de Letras.
SOBRE O CD QUANTA DE GILBERTO GIL
O CD ‘Quanta’ lançado em 1997 canta em cânticos quânticos o elo entre a ciência e arte, modernidade e tradição.
No disco, Gil elabora “uma leitura poética sobre a ciência e sobre suas interfaces com a filosofia, a religião e a arte”, como define o compositor e fala de fractais, Internet, hackers, quarks etc. Ao mesmo tempo, trata de filosofia chinesa e candomblé.
Seu objetivo é criar “pontes entre o campo mágico e o campo da física”, algo que, segundo ele, retrata uma aproximação que já acontece entre a ciência e o misticismo.
GILBERTO GIL REGRAVOU O SAMBA DE CARTOLA E CARLOS CACHAÇA
O manifesto de intenções de Gil é exposto nas duas primeiras músicas do disco, “Quanta”, dele, e “Ciência e Arte”, de Cartola e Carlos Cachaça.
“Sei que a arte é irmã da ciência/ Ambas filhas de um Deus fugaz”, canta Gil em “Quanta” -que conta com a participação de Milton Nascimento.
A música “Ciência e Arte” foi uma das inspirações do disco. “É um samba-enredo ornamental, poético e dedicado a louvar as ciências e os campos do conhecimento no Brasil. É a música-emblema do disco”, diz.
QUANTA
Gilberto Gil
Quanta do latim, plural de quantum
Quando quase não há
Quantidade que se medir
Qualidade que se expressar
Fragmento infinitésimo, quase que apenas mental
Quantum granulado no mel, quantum ondulado do sal
Mel de urânio, sal de rádio, qualquer coisa quase ideal
REFRÃO:
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos
Canto de louvor de amor ao vento
Vento, arte do ar
Balançando o corpo da flor
Levando o veleiro pro mar
Vento de calor, de pensamento em chamas, inspiração
Arte de criar o saber
Arte, descoberta, invenção
Teoria em grego quer dizer o ser em contemplação
REFRÃO
Sei que a arte é irmã da ciência
Ambas filhas de um Deus fugaz
Que faz num momento e no mesmo momento desfaz…
Esse vago Deus por trás do mundo, por detrás do detrás
Cântico dos cânticos, cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos, quântico dos quânticos
Cântico dos cânticos, cântico dos cânticos
Quântico dos quânticos, quântico dos quânticos.
Finalmente a arte pode se combinar com a ciência como parte de uma estratégia pedagógica explícita para a educação científica da população. Atividades de ciência e arte possibilitam o desenvolvimento de novas intuições e compreensões através da incorporação do processo artístico a outros processos investigativos.